Terminou neste domingo (8) a plenária do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos no Vaticano. O representante brasileiro, o arcebispo de Brasília, dom Paulo Cezar Costa, participou da semana de atividades na qual os membros trabalharam na celebração dos 1700 anos do primeiro Concílio de Niceia, que será comemorado em 2025.

Foto: Vatican News

 

“A fé de Niceia é aquilo que nos une; a afirmação de que Jesus Cristo é o verdadeiro Deus, verdadeiro homem. Se percebeu com clareza que Niceia anuncia e tematiza aquilo que está na escritura, aquilo que está no Novo Testamento: a afirmação da divindade, da humanidade de Cristo. A fé comum nossa é aquilo que nos une. E, a partir da fé comum, nós devemos caminhar juntos, olhando principalmente para aquelas coisas que nos unem e, assim, termos consciência também das nossas diferenças, mas irmos caminhando juntos, como cristãos, como homens e mulheres que creem em Jesus Cristo e assumindo, principalmente juntos, uma pauta de valores para humanidade.”

 

A plenária aconteceu na semana passada

 

O caminho das religiões

Na sexta-feira (6), o Papa Francisco recebeu os participantes da plenária e os encorajou “a desejar mais do que nunca a unidade pela qual o Senhor rezou e deu a vida”. Em entrevista a Silvonei José sobre a audiência, dom Paulo começou recordando a encíclica Fratelli tutti, escrita pelo Pontífice, onde “ele pensa o mundo como um mundo de irmãos”. Um pensamento enaltecido pelo Papa no próprio encontro de sexta-feira, quando afirmou que “hoje não é possível para um cristão ir sozinho com a própria confissão”: “a consciência do ecumenismo é tal que não se pode pensar em seguir no caminho da fé sem a companhia de irmãos e irmãs de outras igrejas ou comunidades eclesiais”, acrescentou Francisco.

O arcebispo de Brasília comentou a citação, dizendo que “a grande busca dos últimos Papas”, com a crise de religião gerada pela modernidade, tem sido mostrar “que a religião tem que ser promotora da paz e de uma pauta de valores para a sociedade. Foi esse o sentido do grande encontro que São João Paulo II fez com as grandes religiões em Assis. Depois também Bento XVI e o Papa Francisco”, descreveu dom Paulo, ao acrescentar:

“É claro que as religiões, cada uma tem a sua forma de crer, cada uma tem seu caminho, mas é um caminho que na diversidade nós devemos trilhá-lo na unidade, caminhando juntos. Caminhar juntos implica dizer que é preciso olhar a humanidade, é preciso perceber que as religiões cristãs têm uma grande contribuição a dar ao mundo de hoje.”

A conversão passa pela fidelidade a Jesus

E esse é o papel do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, recordou o arcebispo, diante de várias questões, seja ela ecológica, de um mundo fragmentado ou da busca pela paz. Com a guerra na Ucrânia, o Papa falou da importância de se perguntar “o que as Igrejas fizeram e o que podem fazer para contribuir para o desenvolvimento de uma comunidade mundial”. Segundo o arcebispo de Brasília, a resposta está em olhar Jesus Cristo como o grande centro; o contrário, causa divisões em tempo de guerra.

“Basta ver todo relacionamento neste momento com Patriarcado de Moscou; a posição do Patriarcado de Moscou. Não adianta aqui querermos colocar panos quentes na questão religiosa que está aí no mundo ucraniano, no mundo russo. Eu acho que são muitas coisas que não fizemos e que poderíamos ter feito. Acho que dessa guerra é preciso tirar uma grande lição, é preciso antes de tudo nos convertermos. Convertermos implica dizer: olhar para Jesus Cristo e perceber que Ele é o centro, perguntarmos pela nossa fidelidade a Ele, ao seu Evangelho. Porque o grande perigo das religiões cristãs é quando elas começam a tomar caminhos que não são caminhos evangélicos, que não são caminhos de Jesus Cristo, que não são de fidelidade a Jesus Cristo e, às vezes, são caminhos de fidelidade a histórias, a ideologias, aos senhroes deste mundo do que ao Evangelho.”

“É preciso uma conversão das religiões. É preciso começarmos a olhar para o lado e percebermos que o outro é um irmão, é uma irmã, que trilha o mesmo caminho que eu, que também professa a mesma fé em Jesus Cristo […] É começarmos a perceber que há um centro que nos une: é a nossa fé num único Deus, que une a todos nós, que é o grande Pai da família humana e que nos faz sentirmos verdadeiramente irmãos irmãs.”