Presidente da Comissão para Cultura e Educação faz uma análise da tragédia na escola em Suzano

O massacre na Escola Estadual Professor Raul Brasil, ocorrido no dia 13 de março, em Suzano (SP), deixou os brasileiros em luto. O atentado que terminou com dez pessoas mortas, traz à tona uma discussão sobre importante para a sociedade sobre a cultura do ódio. O portal da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) conversou com o arcebispo de Montes Claros (MG) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Cultura e Educação da CNBB, dom João Justino de Medeiros sobre essa crueldade que banaliza a vida humana.

“A educação familiar é um dos mais importantes recursos para abrir caminhos de boa conduta. Em muitas situações, o descaso no acompanhamento e a falta de pessoas de referência acaba por potencializar alguma tendência à maldade e, às vezes, o próprio crime”, destaca dom João Justino.

O que essa tragédia na escola em Suzano (SP) nos deixa como lição?

Antes de tudo a nossa solidariedade às famílias e aos estudantes, professores e servidores. É preciso reconhecer a tragédia na escola em Suzano como um escândalo e contradição. Como uma escola, para onde se dirige buscando o aprendizado, pode se tornar um local de tamanha crueldade? Não há como não ficar indignado com esse fato. Mais uma vez as feridas de nosso país foram mostradas para o mundo. Muitas lições podem ser aprendidas desse terrível acontecimento. Ninguém deve deixar de se perguntar: o que este fato me faz pensar? Destacaria duas lições, entre tantas outras. Necessidade de acompanhar as crianças, os adolescentes e jovens em seu processo de crescimento é a primeira. Todo e qualquer ser humano tem riscos de se inclinar para o mal. A educação familiar é um dos mais importantes recursos para abrir caminhos de boa conduta. Em muitas situações, o descaso no acompanhamento e a falta de pessoas de referência acaba por potencializar alguma tendência à maldade e, às vezes, o próprio crime. Quem acompanha saberá, inclusive, a hora de pedir ajuda especializada. A segunda lição está associada ao uso excessivo de recursos virtuais. A vida saudável pede esporte, ar livre, pé no chão, joelho ralado, jogos entre amigos… O mundo da computação tende a retirar as pessoas de espaços vitais que promovem o gosto do encontro, a beleza da solidariedade e o sonho de um mundo de paz.

O estímulo à intolerância, ao ódio gratuito pode ser fonte inspiradora para essa tragédia?

Todo discurso que prega a intolerância fere a dignidade das pessoas. Quando a Igreja realiza, por exemplo, a Campanha da Fraternidade, ela está promovendo o encontro entre as pessoas, a valorização da vida e das relações interpessoais, a promoção da convivência na harmonia e no respeito. A intolerância e o ódio não podem produzir a paz e a fraternidade. Uma pessoa movida pelo ódio tende a ser destruidora. Quando o discurso intolerante é estimulado e as pessoas cedem e passam às vias de fato, a sociedade caminha para o rompimento dos laços sociais.

O caso suscitou alguns debates na sociedade como por exemplo, os jovens estão tendo cada vez mais acesso fácil a violência na internet, qual a sua avaliação?

Lamentavelmente, a internet que é um maravilhoso dispositivo para a comunicação e o conhecimento é, também, um espaço onde se semeiam o ódio, a violência, a intolerância. Há jogos extremamente violentos. Como negar que estes jogos têm um percentual de estímulo à violência? Uma criança está apta a aprender manusear uma arma como também a ler um livro, a ser prisioneira dos vídeos-games ou a tocar um instrumento musical. Como adultos, o que oferecemos às crianças? O que colocamos em suas mãos? Todos devemos e precisamos atuar em prol de uma cultura de paz. Um grau necessário de agressividade que se associa à proatividade e à superação de medos pode ser trabalhado por meio de jogos e outras atividades físicas. A dimensão lúdica se associa facilmente à dimensão artística. Há necessidade de políticas públicas que estimulem adolescentes e jovens a cuidar da mente e do corpo. Vale para nossos dias o velho ditado latino “mente sã em corpo são”. É urgente libertar as crianças, adolescentes e jovens das prisões do mundo virtual.

Outro debate é o acesso fácil a armas. O que a Igreja tem a dizer sobre isso?

A defesa da pessoa, dos povos e das nações não pode estar dissociada do compromisso de promoção da paz. O mesmo se deve dizer quando se trata de autodefesa. São João Paulo II, ele mesmo vítima das armas, disse que “o mundo atual necessita do testemunho de profetas não armados, infelizmente objeto de escárnio em toda época”. O capítulo XI do Compêndio da Doutrina Social da Igreja é dedicado ao tema da “promoção da paz”. Eu indicaria a leitura e o estudo em grupo desse texto que muito esclarece o pensamento da Igreja sobre o acesso e o uso das armas. Mais do que opiniões subjetivas, é preciso fundamentar porque a fé cristã considera que a violência nunca constitui uma resposta justa.

 

Por CNBB

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