No Dia Internacional da Mulher, dom Pedro Brito chama atenção para o aumento do feminicídio

Neste oito de março, Dia Internacional da Mulher, o arcebispo de Palmas, dom Pedro Brito Guimarães pediu licença e passagem às mulheres e aos homens, para tocar com seus dedos, em uma das chagas mais dolorosas, sangrentas e mortais: o feminicídio. Embora exista agendas positivas para comemorar este Dia, o arcebispo preferiu afirmar que feminicídio é a hemorragia do nosso tempo. ”Hemorragia remete imediatamente a sangue, a dor, a sofrimento e a morte. Fico inquieto quando ouço notícia de mais um feminicídio. Mas não basta contabilizar estatísticas”, disse.

Em seu artigo “Feminicídio: a hemorragia do nosso tempo”, dom Pedro argumenta que a taxa de feminicídio cresceu 81,8% no Tocantins. Só em Palmas cresceu 1.100% em dez anos. Trata-se, segundo ele, de uma “tragédia humana”, de uma “hemorragia que precisa ser estancada”. De acordo com ele não é esta a intenção do Criador: “Ao ver Eva, pela primeira vez, Adão exclamou: ‘desta vez, é osso dos meus ossos e carne da minha carne’. De fato, ‘não foi criada para os humanos a soberba, nem a raiva para os nascidos de mulher’”.

Matar por amor, por ciúme ou por quaisquer outros motivos segundo o bispo é não amar, é odiar. Para ele, violência não é sinal de força e de poder e sim de fraqueza, de posse e de perda. “O pior de um homem é matar uma mulher que não o quer mais como companheiro. Matar assim é matar a si mesmo”, garante o bispo.

Neste caso específico, em que o homem mata a mulher por amor, dom Pedro diz que femicicídio é “suicídio”: “Qual é o perfil do que mata quem não a quer mais como companheira? É o de um homem de baixa autoestima, de um amor só, de um pensamento único, inseguro e incapaz de recomeçar a vida com outra parceira depois que o relacionamento amoroso terminou”.

Matar mulher é, segundo o arcebispo, matar a harmonia do mundo. E o que mais se precisa, neste tempo complexo, de acordo com ele é de harmonia. “Além de tudo, feminicídio é crime hediondo. Não é possível continuar matando mulher só porque ela não quer mais conviver com um determinado homem”, diz. Por tudo isto, o arcebispo alega que é preciso fazer alguma coisa. Para ele não bastam o silêncio, cruzar os braços, fechar a boca e o coração.

“Não vale simplesmente a consternação. Não basta contabilizar dados estatísticos sobre o feminicídio. É preciso ter coragem para mudar este estado de coisa. É preciso harmonizar e humanizar as relações entre homem e mulher. É preciso ensinar a amar e a começar um novo relacionamento amoroso. É preciso que homem e mulher se irmanem e lutem juntos para estancar esta hemorragia, fonte de muitos sofrimentos. É preciso pôr em prática a legislação, repudiar todas as formas de violência e de morte e promover a cultura do encontro e da fraterna convivência entre homem e mulher”, garantiu.

Confira o artigo do bispo na íntegra logo abaixo:

 

 

Feminicídio: a hemorragia do nosso tempo

Dom Pedro Brito Guimarães
Arcebispo de Palmas – TO

Neste oito de março, Dia Internacional da Mulher, peço licença e passagem a vocês, mulheres e homens, para tocar com meus dedos, em uma das chagas mais dolorosas, sangrentas e mortais: o feminicídio. Embora exista agendas positivas para comemorar este Dia, preferimos afirmar que feminicídio é a hemorragia do nosso tempo. Hemorragia remete imediatamente a sangue, a dor, a sofrimento e a morte. Fico inquieto quando ouço notícia de mais um feminicídio. Mas não basta contabilizar estatísticas. Ao lado das violências, banalizadas e institucionalizadas, dos crimes organizados, das milícias e das quadrilhas armadas, dos tráficos de pessoas e de drogas e das importunações sexuais, “o feminicídio é a praga que mais cresce na América Latina” (papa Francisco, na JMJ-2019, no Panamá). Segundo dados colhidos, nas redes socais, a taxa de feminicídio cresceu 81,8% no Tocantins. Só em Palmas cresceu 1.100% em dez anos. Trata-se, pois, de uma tragédia humana, de uma hemorragia que precisa ser estancada.

Não é esta a intenção do Criador. Ao ver Eva, pela primeira vez, Adão exclamou: “desta vez, é osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2,23).  De fato, “não foi criada para os humanos a soberba, nem a raiva para os nascidos de mulher” (Eclo 10,22). Matar por amor, por ciúme ou por quaisquer outros motivos é não amar, é odiar. Aqui valem os velhos ditados: “quem ama não mata” e “quem mata não ama”. Amar e matar é a negação do amor. Amar não é apossar-se. “Amar é tudo dar e dar-se a si mesmo” (São João da Cruz), pois, “o amor é magnânimo, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem arrogante; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não leva em conta o mal sofrido; não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Ele tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13,4-7). Violência não é sinal de força e de poder e sim de fraqueza, de posse e de perda. O pior de um homem é matar uma mulher que não o quer mais como companheiro. Matar assim é matar a si mesmo. Neste caso específico, femicicídio é suicídio. Qual é o perfil do que mata quem não a quer mais como companheira? E o de um homem de baixa autoestima, de um amor só, de um pensamento único, inseguro e incapaz de recomeçar a vida com outra parceira depois que o relacionamento amoroso terminou.

Sábias, verdadeiras, belas e oportunas são as palavras do papa Francisco: “mulher não existe para lavar louças. A mulher é para trazer harmonia. Sem a mulher não há harmonia”. Matar mulher é matar a harmonia do mundo. E o que mais precisamos, neste tempo complexo, é de harmonia. Além de tudo, feminicídio é crime hediondo. Não é possível continuar matando mulher só porque ela não quer mais conviver com um determinado homem. Por tudo isto, precisamos fazer alguma coisa. Não bastam o silêncio, cruzar os braços, fechar a boca e o coração. Não vale simplesmente a consternação. Não basta contabilizar dados estatísticos sobre o feminicídio. É preciso ter coragem para mudar este estado de coisa. É preciso harmonizar e humanizar as relações entre homem e mulher. É preciso ensinar a amar e a começar um novo relacionamento amoroso. É preciso que homem e mulher se irmanem e lutem juntos para estancar esta hemorragia, fonte de muitos sofrimentos. É preciso pôr em prática a legislação, repudiar todas as formas de violência e de morte e promover a cultura do encontro e da fraterna convivência entre homem e mulher

Mulheres, contem conosco! Feliz Dia Internacional da Mulher. Um abraço e minha bênção!

 

Por CNBB

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